Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga em alta: quem lucra com o espetáculo do Tremembé
A série e o momento atual
A engenharia da narrativa
A criação de arquétipos
a “moça de classe média que se perdeu”, a “mãe traída e vingativa”, o “crime impossível de entender”. São moldes que simplificam a realidade e dão ao público uma sensação de domínio moral. Entender o crime passa a ser uma forma de controle emocional. Mas há duas armadilhas aqui.
A primeira é confundir compreensão com absolvição — explicar o crime não é justificar o criminoso.
A segunda é o desaparecimento das vítimas: viram figurantes de uma história que nunca pediram para protagonizar. A mídia, ao dramatizar, muitas vezes cria versões mais palatáveis que a realidade. Documentários mal revisados, entrevistas enviesadas e roteiros de “exclusivos” reforçam a crença de que estamos diante da verdade. No entanto, o que se vê é uma construção cuidadosamente dirigida para emocionar — não para esclarecer.
A economia da dor
- O caso é reeditado e divulgado.
- O público comenta, pesquisa e compartilha.
- O interesse gera novos programas, análises e debates.
- Cada clique alimenta o ciclo — e a tragédia continua rendendo.
O público como vítima — e como causa
E enquanto acreditamos estar analisando, somos analisados — nossos padrões de engajamento alimentam os próximos lançamentos. O público é, simultaneamente, vítima da manipulação emocional e motor da engrenagem. É o espectador que mantém o palco aceso.
O apagamento das vítimas
As famílias, por sua vez, revivem a dor sem consentimento, vendo o trauma se tornar produto. Essa omissão não é casual: a vítima é incômoda porque não vende bem. Ela nos força a confrontar o real. O criminoso, ao contrário, é mais rentável — tem mistério, expressão, conflito. A lente o favorece.
É nesse desequilíbrio que o sensacionalismo prospera.
Conclusão — a engrenagem que não para
Isso não é um julgamento moral, mas uma constatação ética: cada visualização, cada compartilhamento, cada clique reforça o sistema que transforma sofrimento em mercadoria. Basta observar as manchetes que mais atraem cliques — títulos que flertam com o grotesco, que trocam empatia por impacto. Esse padrão não é acidental: é calibrado para capturar atenção. E nós, distraídos, seguimos colaborando. O resultado é uma cultura que normaliza a exploração da dor.
O público acredita estar sendo informado, quando na verdade é conduzido por algoritmos e narrativas que priorizam engajamento sobre verdade. Consumir criticamente é o primeiro passo. Parar de naturalizar a tragédia é o segundo. Porque enquanto houver quem assista sem questionar, haverá quem continue lucrando com o horror.
E, talvez, o verdadeiro cárcere de Tremembé não esteja nos muros do presídio — mas na complacência de quem o assiste.